Dois fatores foram responsáveis por derrubar o lucro líquido das companhias brasileiras em 42% no primeiro trimestre, os custos de produção e o resultado financeiro.
A receita proveniente das vendas e prestação de serviços conseguiu manter um crescimento ligeiramente superior à inflação, superando as expectativas dos analistas. No entanto, esse foi o pior desempenho registrado para um primeiro trimestre nos últimos cinco anos, com um crescimento nominal e real mínimo.
Um levantamento realizado pelo Valor Data com empresas financeiras revelou que a receita total aumentou 8% no ano, alcançando R$ 828,6 bilhões. Considerando o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos últimos 12 meses, o aumento real foi de 3,1%.
Enquanto o desempenho na receita foi surpreendente para alguns analistas, em parte devido às expectativas baixas, as despesas financeiras cresceram significativamente e acabaram corroendo os lucros operacionais. De acordo com o levantamento, esse indicador atingiu R$ 46,2 bilhões, oito vezes maior do que o registrado no ano anterior.
“O consumo das margens ocorreu devido ao aumento da taxa de Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que foi maior do que a média do mesmo período do ano passado, resultando em um custo de capital geralmente mais alto”, afirma o chefe de pesquisa do BTG Pactual para a América Latina, Carlos Sequeira.
Ele afirma que, ao analisar os resultados de forma qualitativa, já era esperado que os números das empresas fossem fracos em comparação com o primeiro trimestre do ano passado.
O estrategista-chefe da XP, Fernando Ferreira, também observou que a temporada de resultados não apresentou uma direção específica, com lucros pressionados e as empresas preocupadas em reduzir sua alavancagem.
“Elas tomaram medidas enérgicas, como a venda de ativos e a antecipação de recebíveis por meio da emissão de títulos, em um mercado de juros desfavorável, o que afetou o resultado financeiro.”
Além dos efeitos cambiais e do aumento dos custos da dívida, algumas empresas registraram variações significativas nas despesas financeiras. É o caso da Eletrobras, que incluiu as perdas relacionadas à reestruturação pós-privatização nessa rubrica; a Cosan, que sentiu os efeitos da aquisição de participação na Vale; e a Suzano, cujos ganhos com derivativos e variação cambial foram consideravelmente menores em comparação com o ano anterior.
“Todo o progresso operacional foi consumido pelas despesas financeiras”, comenta o chefe de análise do BB Investimentos, Victor Penna.
Em relação à variação cambial, que foi menor do que no primeiro trimestre do ano passado, mas ainda positiva, Penna afirma que esse efeito beneficiou as empresas com uma parcela maior de dívida em moeda estrangeira, como Suzano e Klabin. No entanto, ele ressalta que é um efeito não-caixa no fechamento do trimestre.
Os custos de produção de bens e serviços, que têm sido um grande obstáculo nos últimos anos, aumentaram 9,5%, totalizando R$ 623,6 bilhões. Como resultado, a margem bruta, ou seja, a relação entre o lucro bruto e a receita, recuou 1,1 ponto percentual no primeiro trimestre, ficando em 24,7%.
Os analistas afirmam que o desempenho da receita acabou sendo melhor do que o esperado, especialmente para as empresas que atuam no mercado interno, devido a uma ligeira reação na atividade econômica. Segundo Pedro Serra, diretor de pesquisa da Ativa Investimentos, as expectativas foram ajustadas para baixo desde o início do ano, e por isso os resultados surpreenderam um pouco os investidores.
“Já esperávamos que os frigoríficos tivessem um desempenho fraco, impactados pelo ciclo da carne, mas eles vieram piores do que o previsto”, afirma Carlos Sequeira.
Penna, do BB Investimentos, acredita que as altas taxas de juros, que mantêm a economia desaquecida, estão afetando as vendas. “Os altos juros têm um efeito tardio aqui, estamos sentindo agora os impactos de seis meses atrás”, afirma.
Quanto aos setores, a estrategista da XP, Jennie Li, diz que não houve nenhum setor que se destacasse positivamente ou negativamente.
“O consumo de alta renda se manteve resiliente, e o setor de energia tem sua própria dinâmica”, afirma. Mesmo as empresas de commodities, que sofreram com a queda nos preços dos produtos, conseguiram gerenciar esses efeitos.
Sequeira destaca o setor de saúde como um destaque positivo, principalmente devido às expectativas baixas em relação a essas empresas. Por outro lado, as empresas de serviços públicos e alimentos chamaram atenção de forma negativa. “Já esperávamos que os frigoríficos tivessem um desempenho fraco, impactados pelo ciclo da carne, mas eles vieram piores do que o previsto”, diz o analista.
Ferreira, da XP, aponta o setor de educação como uma surpresa positiva no cenário nacional. “Tivemos desenvolvimentos interessantes na base de estudantes e nos ingressos”, comenta. Os shoppings também continuaram apresentando um desempenho robusto no primeiro trimestre.
“No geral, quando analisamos os detalhes, vemos boas histórias que chamam a atenção em meio a esse cenário macroeconômico desafiador”, acrescenta.
Se considerarmos os resultados da Petrobras e Vale, que têm um impacto substancial devido ao tamanho das duas principais empresas do índice da bolsa, o lucro da amostra cai 36% em comparação com o ano anterior, totalizando R$ 89,9 bilhões, enquanto as receitas aumentaram 5%, ultrapassando a marca do trilhão.
As empresas do setor de commodities ainda estão sentindo os efeitos dos preços mais baixos de seus produtos e da demanda reduzida, mas os analistas apontam que a tendência parece ser de melhora nos próximos períodos.
A avaliação é de que as empresas não devem apresentar grandes avanços em seu desempenho durante o segundo trimestre, uma vez que o cenário macroeconômico deve permanecer essencialmente o mesmo do início do ano. No entanto, os aumentos salariais e uma redução sequencial na inflação, mesmo que pequena, podem impulsionar o consumo.
“A atividade econômica está se aquecendo, com aumento do salário mínimo e aumento dos salários dos servidores”, afirma Sequeira.
Ele diz que pode haver uma melhora marginal no desempenho das empresas com esse fator, apesar da pressão dos juros ainda altos, e observa que as revisões das estimativas para baixo por parte do BTG podem ter chegado ao fim, após uma série de cortes nas projeções no início do ano.
Com informações do Valor Econômico
Publicado por: Danielle Nader
Fonte: contabeis.com.br